“A Igreja está de portas abertas nos gestos dos ‘Cirineus’ e Verônicas’”, diz Dom Antônio durante Celebração da Paixão

Celebração aconteceu na Catedral Metropolitana                     | Thiago Aquino / Pascom Arquidiocesana

Celebração da Paixão do Senhor é marcada por silêncio (Fotos: Wanderlan Velozo/Pascom Arquidiocesana)

Com a Catedral de portas fechadas e bancos vazios, Dom Antônio Muniz Fernandes presidiu a Celebração da Paixão e Morte de Jesus às 15h dessa Sexta-Feira Santa (10). A presença física de centenas de fiéis foi substituída pela participação virtual por meio da transmissão ao vivo da Pastoral da Comunicação no Instagram, Facebook e YouTube. O arcebispo metropolitano de Maceió refletiu sobre a Paixão de Cristo celebrada em tempos de quarentena.

“Estamos vivendo esta tarde de uma maneira extremamente singular. Muitos se perguntam se é o fim do mundo ou o começo do fim, mas nós não sabemos, porque tudo está entregue nas mãos de Deus. Muitos estão estarrecidos porque estamos celebrando com portas fechadas, no entanto deveríamos ter a calma e a reflexão do nosso pastor maior, o Papa Francisco, que está no epicentro da pandemia e tem mantido para a Igreja um clima de muita tranquilidade. É  como se ele estivesse fazendo um grande exercício que todos os antigos nos ensinaram, a chamada ataraxia, não faz escândalo e isso reduz a pressão pela qual estamos passando”, refletiu Dom Antônio.

Dom Antônio lembrou que a Igreja também fechou as portas em outros momentos

O arcebispo explicou que a Via Sacra de Jesus é vivida pela sociedade e que muitas vezes não é percebida. “Se um católico diz que não celebramos a Paixão é porque não tem compaixão pelo sofrimento dos outros. E o pai de família crucificado a cada dia? E a mãe de família em ônibus apertado? E as ‘Verônicas’ que rompem as multidões, sem medo de contágio, para enxugar o rosto ensanguentado de Jesus na pessoa do próximo que elas nem conhecem? E os médicos e enfermeiros ‘Cirineus’ que ajudam a carregar a cruz dos irmãos? E os caminhoneiros que deixam suas famílias para transportar insumos, comidas e esperança? E os policiais e guardas que estão na ativa para coibir qualquer aglomeração? Ninguém pode acusar a Igreja de estar de portas fechadas, porque a Igreja verdadeira é aquela que está dentro de cada um que estende as mãos”, pontuou o presidente da celebração.

O gesto do beijo da cruz foi feita de forma virtual

A adoração da Cruz, própria da Celebração da Paixão, também foi um momento inédito. Dom Antônio pediu que os fiéis, em casas, fizessem o gesto do beijo da cruz. Pelas redes sociais, os participantes atenderam ao pedido com o envio de emojis – expressões – de beijo virtual. Marcada pelo silêncio, a celebração acrescentou às preces a oração pelo fim da pandemia.

Os bancos vazios da Catedral acolheram virtualmente os fiéis

Durante a homilia, o arcebispo também explicou que não a primeira vez que a Igreja fecha as portas dos templos para evitar a proliferação de doença. Ele lembrou que no século XV e início do século XVI o Papa Inocêncio VII determinou temporariamente o fechamento das igrejas de Roma para evitar aglomeração e o contágio da peste negra, assim como o arcebispo de Milão, o cardeal São Carlos Borromeu, decretou quarentena e a prorrogou para conter o contágio da doença por meio do isolamento social.

“Naquele momento também não existia remédio e morreram entre 75 a 200 milhões de pessoas na Eurásia. A sabedoria do Papa e do cardeal fez com que existisse uma barreira humana de isolamento para evitar o contágio. Aquilo não foi de responsabilidade de Deus, como muitos oportunistas pensam. A peste contagiou a Europa por conta dos navios que faziam as navegações de mercadorias. Desta vez, uma doença atinge o mundo pelo alto, pelos aviões e também pelos grandes cruzeiros. O tempo da peste negra era outro, mas a realidade que estamos vivendo com a covid-19 é a mesma”, detalhou Dom Muniz.

Celebração foi transmitida pelas redes sociais

O metropolita também chamou atenção para o aprendizado a partir do que o mundo vive hoje. “Com a peste negra, foi destruída a chamada Alta Idade Média e nasceu muita coisa boa. Com o coronavírus, é uma oportunidade da gente sair de um mundo que não tem Deus e renascer, aprender das lições. Quantas mesas fartas e quantas mesas sem nem um pão para saciar os filhos que gritam com fome, quantas tratamentos ‘vips’ e que hoje não valem nada, porque as UTIs estão repletas de pessoas acometidas”, comparou. “Meus irmãos, isso tudo vai passar, no ano que vem estaremos de portas escancaradas, mas que isso seja resultado de que o católico abriu o coração para enxergar a dor e o sofrimento do próximo”, acrescentou o arcebispo.

O reitor da Catedral Metropolitana de Nossa Senhora dos Prazeres, cônego Severino Fernando, o vigário, padre Charles, padre Domingos Ferreira e padre José Aloíso concelebraram com Dom Antônio. A Rádio Imaculada Conceição e Rádio Difusora também realizaram a transmissão ao vivo.

A Sexta-Feira da Paixão é o único dia do ano que não há Missa.

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