Comunidade Coração Misericordioso: dez anos de braços abertos para acolher

Marcos Filipe • Pascom Arquidiocesana

No final da cidade de Paripueira, no litoral norte do estado, quem segue no sentido Barra de Santo Antônio, existe uma estrada de barro, que mais adianta se cruza com um riacho, e no seu lado esquerdo, encontramos a Comunidade Coração Misericordioso, que neste mês de maio, completa 10 anos de existência.

E porque descrevemos o caminho até chega à casa? Porque durante uma década, dezenas de pessoas passaram por ele, com os pés sujos de barro de suas vidas, lavaram seus calçados da dependência química no riacho, quase como a água do batismo, e entraram na esperança de terem suas vidas restauradas.

Quem nos recebeu para conversar sobre esses anos de existência, foi o fundador da comunidade terapêutica, Emerson França. Ele explicou que a comunidade nasceu através da inspiração do Espírito Santo.

“Eu caminhava em uma outra comunidade que dizia assim, filho, pra lidar com essa realidade é necessário ter um coração misericordioso. E senti no meu coração: Eis que iniciarás uma comunidade e ela se chamará Coração Misericordioso. A partir da inquietação de primeiro momento, eu olhei para o menino que estava a minha frente e disse que o Senhor estava falando que eu vou fundar a comunidade” relembrou.

Ele disse que Deus foi utilizando outras pessoas, e após a sua tomada de decisão precisava saber em qual local seria fundada a comunidade. “Os jovens se perdendo nos vícios, né? Nas farras e eu preciso levantar jovens que proclamem a vida de santidade. E assim nós viemos pra cá pra Paripueira, demos início, encontramos uma casinha velha, abandonada, onde só tinha mato, boa parte do telhado quebrado”.

Emerson disse que olhou para o céu e questionou se era ali que Deus queria a comunidade. No seu coração veio a figura de São Francisco, que num lugar simples como aquele, havia iniciado a sua obra. E assim, o santo foi escolhido como baluarte da Casa. É a sua imagem que recepciona quem chega ao local.

O dependentes químicos são acolhidos por vontade própria, e como o fundador diz: eles veem em busca de socorro para escreverem uma nova história.

Foi o caso do Lucas que está há dois meses na casa. Ele nos contou sobre a rotina. “Acordamos, temos as orações matinais e o trabalho laboral”. Esse último, são atividades da casa, como arrumar a residência, tomar conta dos bichos, os trabalhos artesanais.

“É muito bom está aqui e espero terminar todo o tratamento para sair daqui um novo homem”, disse o acolhido sobre seu futuro.

E para o fundador, o que esperar dos próximos dez anos? Ele se inspira na própria história para olhar o futuro.

“Nesses dez anos a gente contempla as maravilhas do Senhor. De uma história que iniciou ainda quando eu era recém-nascido. Com quinze dias fui abandonado numa caixa de papelão, na porta da igreja Nossa Senhora das Graças, na Levada, e o sacerdote quando chega lá pra celebrar, me encontra, me coloca no altar e me oferta em sua homilia. E veja, trinta anos depois eu me consagro missionário em uma missa nesta mesma igreja com o padre Ernesto onde um dia eu fui abandonado. Por quê? Porque não sei as circunstâncias que aquela mulher não pôde me criar, mas o Senhor precisava de mim. E ali começou essa história que hoje se revela aqui na ação do carisma Coração Misericordioso que tem essa missão belíssima. De transformar vidas, de ajudar histórias e a gente é apenas uma sementinha disposta para ajudar o nosso irmão”, disse Emerson.

Uma chegada na casa ao posto de coordenador

Gabriel é membro da comunidade Coração Misericordioso e atual coordenador da casa. Ele é responsável por administrar as atividades e o seu funcionamento.

“Há exatamente um ano e dois meses, eu estava em situação de rua, havia deixado a minha família e ido para o mundo das drogas, do álcool, da prostituição. Eu não tinha destino e lembro que cheguei até aqui, na verdade fui guiado até aqui. Fui perguntando as pessoas onde era a casa, até que achei”, contou-nos.

Ele falou que dentro do meu processo de tratamento, conheceu Jesus através de um retiro espiritual que a comunidade tinha realizado. “Eu olhava assim o pessoal, todo mundo com a mão para o céu, com a mão para o alto, cantando e louvando. Eu dizia: esse povo é doido, meu Deus. E não entendia o que era isso. Mas naquele momento, senti uma paz dentro do meu coração e vi que naquele momento eu não tinha problemas”.

Foi exatamente nesse dia que ele foi convidado a viver essa vida de transformação. “Eu disse assim: mas logo eu, cara que veio da rua, não conhece nada sobre isso, que já passou por tantas coisas ruins e sendo convidado a viver essa vida. Hoje sou discípulo e minha vida se resume a viver o martírio, a viver obediência, castidade e a alegria”.

E continuou: “Aqui temos um entre nós: Amor e alegria. É assim que nos saudamos. E hoje eu vivo essa alegria de Cristo, hoje eu vivo esse amor de Cristo, hoje a minha vida foi transformada, hoje eu sou um novo ser, um novo homem, uma nova pessoa”.

Scroll Up